terça-feira, 23 de setembro de 2008

Colisor do "Big Bang" será reativado só em 2009

O grande colisor de partículas construído para simular as condições do "Big Bang" não será reativado antes do segundo trimestre de 2009, depois de um defeito no final de semana, anunciou o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN).

Um vazamento de hélio no túnel que abriga a maior e mais complexa máquina já construída forçou o CERN a fechar o Large Hadron Collider (LHC), no sábado, depois de apenas 10 dias de operação. O diretor geral do CERN, Robert Aymar, disse que o problema era um revés psicológico, depois do início bem sucedido das operações do LHC, ao cabo de anos de cuidadosa preparação por equipes científicas da mais alta capacidade.

"Não tenho dúvida de que superaremos esse revés com aplicação e rigor semelhantes", ele afirmou em comunicado. A causa mais provável do vazamento de hélio para o túnel de 27 km que aloja o LHC, sob a fronteira franco-suíça, é uma conexão elétrica defeituosa entre dois dos grandes ímãs do acelerador, informou o CERN.

Para compreender o incidente de forma mais completa, os cientistas agora precisam elevar a temperatura naquelas seções do túnel de volta à temperatura ambiente, ante os atuais 271,3 graus Celsius negativos, e abrir os ímãs para inspeção, um processo que pode demorar entre três e quatro semanas.

O estudo do defeito e os reparos, seguidos pela pausa para manutenção do CERN no inverno europeu, retardarão o reinício das operações do LHC até o começo do segundo trimestre de 2009, segundo o CERN. O CERN retomará então o envio de feixes de partículas pelo túnel, como vinha fazendo com sucesso desde o início das operações, em 10 de setembro.

O próximo passo é promover colisões entre feixes que viajam em direções opostas, a velocidades próximas à da luz. Seria uma tentativa de recriar em escala reduzida o calor e nível de energia do Big Bang, a explosão que os cosmologistas em geral vêem como origem de nosso universo em expansão.

Em plena velocidade, o LHC gerará 600 milhões de colisões por segundo entre partículas subatômicas chamadas prótons, que explodirão em novas partículas até agora não observadas.

Redação Terra

domingo, 14 de setembro de 2008

Acelerador de partículas é inaugurado com sucesso

Aquela que é considerada a experiência científica do século - o início do funcionamento do maior acelerador de partículas do mundo, concebido para explorar os enigmas do Universo - começou nesta quarta-feira com sucesso na Organização Européia para a Pesquisa Nuclear (Cern).

»Fotos: LHC é acionado na Suíça
» LHC: cientistas lançam prótons em sentido contrário
» Acelerador de partículas não ameaça a Terra, diz físico
» Conheça 5 fatos sobre o acelerador
» Rap explica acelerador de partículas

Em meio à alegria dos cientistas, que esperavam por este momento há anos, o primeiro feixe de prótons a ser lançado no Grande Colisor de Hádrons (LHC) fez a primeira volta completa em uma hora no gigantesco túnel circular subterrâneo de 27 km, que fica na fronteira entre a França e a Suíça.

Horas depois, outro feixe de partículas, introduzido na direção oposta, no sentido anti-horário, conseguiu percorrer todo o acelerador.

"Hoje é um dia histórico após 20 anos de trabalho e esforços de milhares de cientistas do mundo", disse à imprensa o diretor-geral do Cern, Robert Aymar.

"Pela primeira vez se conseguiu que o acelerador aceitasse as partículas e que elas circulassem", declarou.

Na experiência desta quarta-feira, no entanto, as partículas foram lançadas com muito pouca velocidade e pouco a pouco para comprovar que todas as peças do LHC funcionassem corretamente.

Após o êxito dos primeiros testes, a pergunta que fica no ar é quando acontecerão as primeiras colisões frontais de partículas com velocidade próxima à da luz, ou seja, quando serão recriados os instantes posteriores ao Big Bang, o momento sonhado pelos cientistas, mas temido por aqueles que acham que levará ao fim do mundo.

"Não sei quanto tempo demorará. É muito difícil saber. Dependerá de quando a máquina estiver funcionando a pleno rendimento, mas esperamos que seja em poucos meses", afirmou Lyn Evans, diretor do projeto do LHC.

Os cientistas do Cern começarão amanhã mesmo a lançarem feixes em sentidos opostos, e as primeiras colisões poderiam acontecer nas próximas semanas, mas com pouca energia, até alcançar, no final do ano, um máximo de energia de 5 TeV (teraelétron-volts).

Quatro enormes detectores - Atlas, Alice, LHCb e CMS -, instalados no acelerador para permitir a observação das colisões frontais entre os prótons serão responsáveis por observarem os milhões de dados que surgirem.

Com custo de US$ 5,64 bilhões, o experimento sem precedentes do LHC foi hoje justificado por seus responsáveis e vários especialistas.

"Sabemos que, apesar dos grandes conhecimentos que temos do Universo, desconhecemos 95% da matéria, e agora temos o mecanismo para transformar a teoria filosófica do Big Bang em física experimental, o que é absolutamente fantástico", afirmou o Prêmio Nobel de Física de 1984 Carlos Rubbia.

"Agora estamos em posição de poder retroceder muito mais, até a origem do Universo, e de poder não apenas observar, mas simular estes instantes", declarou o físico italiano.

"Saber de onde viemos e para onde vamos sempre foi a pergunta que o homem se fez", disse Aymar.

No entanto, Aymar destacou que as descobertas do Cern transcendem a física teórica e têm importantes contribuições práticas, como no campo da medicina, mas também em exemplos como o agora imprescindível "www", inventado por cientistas do Cern em 1990.

Um dos grandes objetivos do LHC é descobrir o hipotético bóson de Higgs, chamada por alguns de "partícula de Deus" e que seria a partícula atômica número 25, após as 24 já constatadas.

A existência desta partícula, que deve seu nome ao físico britânico Peter Higgs, que previu sua existência há 30 anos, é considerada indispensável para explicar a razão de as partículas elementares terem massa, pois as massas são tão diferentes entre elas e confirmaria os modelos usados pela física para explicar o Universo, as forças e sua relação.

"Estamos convencidos de que o que chamamos de modelo standard (dominante na física) não está completo", afirmou Aymar, embora tenha previsto que nenhuma descoberta deste calibre será feita antes de três anos.

Se o bóson de Higgs existe, poderia ser detectado após a colisão de partículas no LHC com velocidade próxima à da luz, afirmam os especialistas.

Por outro lado, Evans afirmou que este acelerador "é um exercício em massa de colaboração mundial, no qual participaram cientistas e especialistas de muitos países, raças e religiões".

Cerca de 10 mil cientistas participaram deste projeto do Cern, entidade que pertence a 20 Estados europeus, mas no qual muitos outros países têm status de observadores.

EFE